foto: Thiago Diniz
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o Brasil possui 5.571 cidades, segundo o IBGE. com tanta variedade cultural neste território imenso, é de se encantar o tanto de expressões atreladas à cozinha, parece que tudo passa pela boa mesa!
no Dicionário de Locuções e Expressões da Língua Portuguesa, de Carlos Alberto de Macedo Rocha e Carlos Eduardo Penna de M. Rocha (Lexikon, 2011), existem várias frases que amo e escuto por aí. trouxe algumas gostosíssimas.
as referências do Dicionário, quando citadas, estarão em itálico, seguidas dos meus comentários!
gostamos de flanar
“fazer colher de pau e bordar o cabo”: ter tempo de sobra, disponível para realizar coisas demoradas e não essenciais. já imaginei aqui um pai brasileiro num domingo de manhã, pegando o jornal na companhia de um cachorro caramelo espalhafatoso, em direção à pracinha mais próxima para jogar dominó!
“cozinhar o galo”: simular que está trabalhando, sem estar; fazer hora, morrinha, engazupar, procrastinar. deixar o tempo passar, sem agir! quem nunca, né? amo essa, especialmente por que os galos são bichos demorados de cozinhar.
“cozinhar em banho-maria”: conduzir um assunto de modo lento, intencionalmente, com o objetivo de fazer com que os interessados dele desistam, ou por não julgar oportuno dar-lhe solução imediata ou a curto prazo. se tem uma coisa que nós, pessoas moradoras dos mais diversos rincões do país sabemos fazer, é esperar para conseguirmos o que queremos!
um “doce de pessoa”
Lorena é “um creme de milho”: fubá fino, especial! essa é das minhas preferidas, afinal, vivemos no país onde o milho é um dos principais ingredientes da nossa cultura.
“Daniel é “uma sopa”: na mesma pegada do creme de milho, essa expressão também é usada para nos referirmos às pessoas que são fáceis de lidar!
Nina é “uma uva”: expressa admiração com a beleza, graça, etc. de alguém ou de algo. tem gente que é um suculência pura e um frescor para a boca!
Marcela é um “doce de coco”: diz-se da pessoa graciosa, agradável, gentil, mimosa. Variação de “uma gracinha!”. somos mesmo pessoas tropicais e mimosas!
também há sempre alguém de “ovo virado”
vira e mexe o Renato acorda “de ovo virado”: de mau humor, irritadiço! resumidamente, um brasileiro pronto para arrumar confusão! mais uma vez o ovo na cultura alimentar e linguística!
não sei por que você ainda namora aquela “sopa de hospital”: alguém sem graça! espero que, em alguns anos, essa expressão não faça o menor sentido: desejo que todas as pessoas precisando de cuidado médico sejam deliciosamente alimentadas (sonhar ainda é de graça!).
ele está sempre a “comer feijão e arrotar peru”: contar falsa vantagem; ser falsa, gabola! aquela pessoa safada, que conta vantagens inventadas e lorotas, e sempre tem um caso mais interessante para compartilhar sobre o assunto que a gente levantou. todo mundo conhece alguém assim! a expressão também coloca o feijão ali, naquele lugar cotidiano. Imagine, né? o peru é o bicho atrelado ao Natal, muito mais especial que o feijão – é o que dizem, mas eu trocaria o peru por uma salada fresca com feijão-de-corda fermentado.
nosso encontro foi um “pastel de vento”: quando algo parece bom por fora, mas não tem substância nenhuma. e está aí outra palavra que amo: “substância”, que pode ser tanta coisa!
ele sempre “entorna a água do feijão”: pessoas que exageram ou complicam algo que era simples. nada pior do que perder o caldinho do feijão recém-cozido.
aquele ali? “maus fígados”: diz-se os que tem, ou é de maus fígados, pessoa geniosa, irritadiça, grosseira! quando for assim, sugira um copo com água e boldo macerado, melhora na hora!
terminei meu relacionamento, ele era “galinha morta”: pessoa sem ânimo, preguiçosa. outro bicho como metáfora, dessa vez para descrever aquele corpo sem alma que nenhuma mulher merece.
mas a gente “faz de besta”, se precisar!
“plantar verde para colher maduro”: estimular alguém, mediante perguntas hábeis, dissimuladas, a fazer uma declaração, contar ou revelar um fato, etc. nada como o nosso querido jeitinho brasileiro, quase ingênuo, para perguntar coisas sem dizer diretamente! se for uma pessoa mineira, então…
“tacar fogo na canjica”: acelerar uma ação, ainda que sobs riscos, para ver no que dá. animar-se, entusiasmar-se. incentivar a ação. pessoas brasileiras são mestres em antecipar e precipitar acontecimentos, e canjica demora a cozinhar, então, melhor botar logo para coser antes que o pessoal chegue! diria que é uma expressão irmã-gêmea de “botar água no feijão”.
“é hora de botar todos os ovos na cesta!”: aquele momento de aposta (mas não no Tigrinho): o ovo aqui como sinônimo de “ouro” outra vez!
“não adianta chorar pelo leite derramado”: depois do acontecimento, de nada vale lamentar-se. quem já derrubou um saco de leite fresco na cozinha, sabe que essa metáfora tem gosto de lágrimas grossas.
“quem não arrisca, não petisca”: não precisa nem explicar, né? a gente chora aquele descontinho ali, aquele descanso extra ali, o beijo nunca antes dado… e bora viver!
com amor e fome de qualquer receita feita com fubá mimoso,
Carolina Dini
publiquei aqui a receita da panqueca de milho fermentada que está na fotografia!
darei uma Oficina de Fermentação em Belo Horizonte neste sábado (15/3, às 9hs) e ainda tenho duas vagas, quem vem? :)
rapadura é doce mas não é mole não hehehehe ❤️
Aquela do feijão e do peru, eu ouvia minha mãe dizer "come ovo e arrota caviar", parecido. Hahaha ❤️