a catarse coletiva que acontece na virada de ano me deixa esperançosa, é sempre um momento simbólico. mas dessa vez eu larguei as metas mirabolantes de lado e coloquei no meu plano cotidiano coisas muito simples:
arrumar tempo para escrever todos os dias, ainda que seja um parágrafo modesto;
seguir fazendo exercícios físicos variados quatro vezes na semana;
testar pelo menos duas receitas novas por semana;
visitar minha lista de seis cidadezinhas que ficam no entorno de Belo Horizonte aos sábados, com a desculpa de almoçar fora de casa;
fazer terapia presencialmente pelo menos duas vezes ao mês;
fazer pelo menos sete barras livres para fortalecer as costas cansadas do computador;
chamar alguma pessoa desconhecida para tomar café pelo menos uma vez por mês.
quando coloco esses números reais nas metas, elas se tornam possíveis. foi algo que aprendi na empresa de tecnologia onde eu trabalhava, e internalizei acompanhando a Flor de Mim: não adianta colocar no papel algo genérico como “cozinhar mais”, “pedalar mais” ou “treinar melhor”. um ponto de partida precisa ser estabelecido, e um ponto de chegada, ainda que utópico!
e tudo bem não alcançar alguma das metas: essa frequência cotidiana certamente vai ficar desejosa em alguns dias por causa do vai e vem da vida, mas a alegria está na “constância gentil”, um pensamento que adotei. é uma sensação incrível rabiscar a agenda com canetas coloridas e ir observando honestamente o caminho!
sugestão de meta: 5 comidas para ter sempre na geladeira
muita gente que conheço colocou como meta cozinhar mais em casa neste novo ano. pensando nessas queridas pessoas, eu trouxe cinco sugestões que realmente adoto na cozinha doméstica e indico para todos os alunos e as alunas que passam pelas minhas oficinas e consultorias de planejamento:
essa berinjela tostada, depois de fria, pode ser guardada inteira num pote hermético para ser usada de diversas formas: em saladas ou mesmo para comer com molho, como mostro no vídeo. deixo várias prontas na geladeira e vou comendo ao longo da semana. dura pelo menos 5 dias refrigerada.
fermente cereais para fazer panquecas: na hora de lanchar, é só jogar essa delícia na frigideira. minha combinação preferida de cereais é uma parte de fubá, uma de aveia, uma de água e sal.
ter uma pasta na geladeira para comer com pão, tapioca e até com a panqueca fermentada é lei na minha casa. a pasta de amendoim, quando alongada no liquidificador com água, suco de limão, sal e mostarda (opcional), está entre as pastas mais simples e que mais duram na geladeira. amo com pães e saladas. basta ir adicionando os ingredientes aos poucos para obter um creme liso e esbranquiçado. e aí é só ajustar o sal e o suco de limão.
os vegetais confitados são uma carta na manga. atualmente, meu vício são os cogumelos confitados, que salvam na hora de fazer macarrão: basta cozinhar e tacar os cogumelo por cima. a técnica pode ser usada com outros vegetais, pois é sempre bom lembrar que o confit de tomatinhos cereja não é o único possível. como o azeite está pela hora da morte por causa do aquecimento global, talvez você queira usar metade azeite e metade óleo vegetal.
ter pelo menos um picles pronto é minha maneira de garantir que estou comendo vegetais até nos dias em que a preguiça bate. usem a técnica que ensino na postagem para fermentar o vegetal que preferir!
e se você quiser se inspirar me ouvindo falando sobre os prazeres da cozinha vegetal, eis a gavação de um videocast com uma entrevista que dei para O Café e A Conta, uma iniciativa da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes).
a escrita como investimento
todas as minhas resoluções de ano novo deságuam, de uma ou outra maneira, na minha escrita, por isso,meu objetivo principal, neste ano, é tornar essa newsletter um lugar onde possamos discutir literatura gastronômica, técnicas brasileiras e nos fartamos no entorno da mesa!
já viu minha série de receitas É Tudo Vegetal, em parceria com a Tuia.co? :)
fiquei consternada com uma pesquisa da Câmara Brasileira do Livro (CBL) que mostrou que 84% da população adulta brasileira não comprou um único livro no último ano. e os principais fatores, segundo a matéria, são os altos preços, falta de livrarias e de tempo. quando penso na leitura de livros, no tempo de qualidade vivido entre páginas, recordo um poema de Ana Martins Marques (do livro Risque esta palavra, de 2021) que me faz refletir sobre as intensas relações que nós podemos ter, de maneiras diversas, com os mais variados livros:
“Alguém acendeu uma lâmpada num livro
mas o quarto permaneceu no escuro
alguém adormeceu com a cabeça sobre um livro
e sonhou então o sonho do livro
o que não está escrito
alguém embaraçou os cabelos
nas linhas de um livro
alguém permaneceu então com a cabeça
para sempre aprisionada no mesmo livro
alguém entrou num livro muito fundo e se afogou
alguém guardou num livro uma passagem de trem
e uma personagem secundária pariu em viagem
alguém leu um livro numa língua que conhecia pouco
e então um novo livro passou a existir no mundo
o livro das coisas que entendeu a pessoa
que leu um livro numa língua que conhecia pouco
alguém conheceu o mar num livro de poemas
e quando mais tarde viu no mar as ondas se quebrando
entendeu que era assim que os versos se quebravam
repetidamente e sem esperança
alguém iniciou uma viagem
na página 43 e só voltou
na página 112, quando era tarde demais
alguém odiava o modo como as pessoas morrem nos livros
alguém se perguntou o que foi feito do cão
depois que se separaram
duas personagens de um romance
alguém acredita que um livro
que não conta o que se passou com esse cão
não deveria ter sido escrito
alguém acredita que algum livro
precisa ter contado a história desse cão
alguém passa toda a vida
à procura desse livro”
quando eu penso em livros e na própria escrita, me sinto privilegiada por estar aqui escrevendo para vocês. hoje, somos uma rede de mais de 6.000 pessoas, e isso é super potente! sinto uma aposta nas minhas linhas sobre o comer quando os depósitos das 20 pessoas que me apoiam cai na conta bancária. vai além da grana (que ainda não cobre os custos de estar aqui criando essa news).
o fato é que escrever aqui me traz a sensação contrária da dependência tóxica das redes sociais: sinto que posso falar sobre qualquer coisa, sem proibição do uso de palavras, sem censuras impostas ou tendências. é um lugar que preciso e quero frequentar mais. e quanto mais tempo livre eu tiver, mais fico próxima de quem forma essa rede.
seguirei, por mais dois meses, escolhendo permanecer com os conteúdos abertos, sem exclusividade, e por isso destacando a necessidade do apoio de vocês para que eu possa transformar a frequência dessa news de mensal para quinzenal: vamos ficar mais próximos? :)
outra forma de me apoiar é comprando um dos meus livros digitais:
Para Começar a Curtir: Fermentação de Vegetais (R$16)
Me Tempera Que Eu Gosto (R$16)
e se quiser me contratar para um encontro online sobre como planejar a cozinha doméstica para comer mais em casa ou, se desejar uma edição autografada do meu livro de poesia, Com os Dois Pés Na Cadeira, me dê um Oi :)
com amor, com fome de escrita e boa mesa,
Carol Dini
créditos:
revisão por Ana Luiza (@revisa.prosa)
fotos por Elisa Chediak
Oi Carol, não achei aqui pelo app como fazer parte do grupinho que paga pela News. Consegue me passar o link por favor? 😌
sempre uma delicia de ler <3